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PREGAÇÃO: Cristo oferece a si mesmo a Deus

Esta é a segunda pregação de Quaresma à Cúria Romana, realizada na sexta-feira, 12 de março, em presença do Papa, pelo padre Raniero Cantalamessa, OFMCap.

“Cristo oferece a si mesmo a Deus”

1. A novidade do sacerdócio de Cristo
Nesta meditação, queremos refletir sobre o sacerdote como administrador dos mistérios de Deus, entendendo desta vez por “mistérios” os sinais concretos da graça, os sacramentos. Como não podemos nos deter em todos os sacramentos, nos limitaremos ao sacramento por excelência que é a Eucaristia. Assim procede também a Presbyterorum Ordinis, que, após falar dos presbíteros como evangelizadores, prossegue dizendo que seu serviço, “que começa pela pregação evangélica, tira do sacrifício de Cristo a sua força e a sua virtude”, misticamente renovado por estes ao altar [1].
Estas duas atribuições do sacerdote são aquelas que também os apóstolos reservam a si mesmos: “Quanto a nós – declara Pedro em Atos –, continuaremos a nos dedicar à oração e ao ministério da Palavra” (At 6,4). A oração da qual fala não é a oração privada; é a oração litúrgica comunitária que tem como centro o partir o pão. A Didaché nos permite perceber como a Eucaristia, nos primeiros tempos, era oferecida no próprio contexto da oração da comunidade, como parte desta e seu cume [2].
Como o sacrifício da Missa não pode ser concebido a não ser em dependência com o sacrifício da cruz, da mesma forma o sacerdócio cristão não pode ser explicado a não ser em dependência e como participação sacramental no sacerdócio de Cristo. É daqui que devemos partir para descobrir a característica fundamental e os requisitos do sacerdócio ministerial.
A novidade do sacrifício de Cristo em relação ao sacerdócio da antiga aliança (e, como já sabemos, em relação a qualquer outra instituição sacerdotal também fora da Bíblia) é posta em relevo na Carta aos Hebreus por diversos pontos de vista: Cristo não precisa, como os sumos sacerdotes, oferecer sacrifícios a cada dia, primeiro por seus próprios pecados e depois pelos do povo. Ele já o fez uma vez por todas, oferecendo-se a si mesmo (7,27); não necessita repetir uma vez mais o sacrifício, mas “na plenitude dos tempos, uma vez por todas, ele se manifestou para destruir o pecado pela imolação de si mesmo” (9, 26). Mas a diferença fundamental é outra. Vejamos como é descrita:
“Cristo, porém, veio como sumo sacerdote dos bens futuros. Ele entrou no Santuário através de uma tenda maior e mais perfeita, não feita por mãos humanas, nem pertencendo a esta criação. Ele entrou no Santuário, não com o sangue de bodes e bezerros, mas com seu próprio sangue, e isto, uma vez por todas, obtendo uma redenção eterna. De fato, se o sangue de bodes e touros e a cinza de novilhas espalhada sobre os seres impuros os santificam, realizando a pureza ritual dos corpos, quanto mais o sangue de Cristo purificará a nossa consciência das obras mortas, para servirmos ao Deus vivo!” (Hb 9, 11-14).
Enquanto qualquer outro sacerdote oferece algo externo a si, Cristo oferece a si mesmo; qualquer outro sacerdote oferece vítimas, mas Cristo oferece a si mesmo como vítima! Santo Agostinho sintetizou em uma célebre fórmula esse novo gênero de sacerdócio, no qual o sacerdote e a vítima são um só: Ideo victor, quia victima, et ideo sacerdos, quia sacrificium: “vencedor por ser vítima, sacerdote por ser vítima” [3].
Na passagem dos sacrifícios antigos para o sacrifício de Cristo, observa-se a mesma novidade notada na passagem da lei à graça, do dever ao dom, ilustrada na meditação anterior. De uma obra do homem para aplacar a divindade e reconciliá-la consigo, o sacríficio passa a ser dom de Deus para aplacar o homem, fezê-lo desistir de sua violência e reconciliá-lo por meio dele (cf. Col 1,20). Também no que diz respeito ao seu sacríficio, como em tudo mais, Cristo é “totalmente outro”.
2. “Imitem aquilo que executam”
A consequência de tudo isso é clara: para ser sacerdote “segundo a ordem de Jesus Cristo”, o presbítero deve, como ele, oferecer a si mesmo. Sobre o altar, portanto, ele não representa tão somente o Jesus “sumo sacerdote”, mas também o Jesus “suma vítima”, sendo assim as duas coisas inseparáveis. Em outras palavras, não se pode contentar em oferecer Cristo ao Pai nos sinais sacramentais do pão e do vinho; deve também oferecer a si mesmo com Cristo ao Pai. Retomando um pensamento de Santo Agostinho, a instrução da S. Congregação dos Ritos, Eucharisticum mysterium, escreve: “A Igreja, esposa e ministra de Cristo, cumprindo com ele a função de sacerdote e vítima, oferece-o ao Pai, e, junto a Ele, oferece-se a si mesma” [4].
O que se afirma aqui a respeito da Igreja como um todo aplica-se de um modo todo especial ao celebrante. No momento da ordenação, o bispo dirige aos ordenados a seguinte exortação: Agnoscite quod agitis, imitamini quod tractatis: “Tenham em conta aquilo que farão, imitem o que celebrarão”. Em outras palavras: faça também você aquilo que faz Cristo na Missa, isto é, ofereça-se a si mesmo a Deus como sacrifício vivo. Escreve são Gregório Nazianzeno:
“Sabendo que ninguém é digno da grandeza de Deus, da Vítima e do Sacerdote, se não se é primeiramente oferecido a si mesmo em sacrifício vivo e santo, se não se é apresentado como oblação santa e agradável (cf Rom 12, 1) e se não se tiver oferecido a Deus um sacrifício elogiável e um espírito contrito – o único sacríficio que o autor de todos os dons nos pede – como ousaria oferecer-lhe uma oferenda exterior sobre o altar, que é a representação dos grandes mistérios?”
Permito-me contar como eu mesmo descobri essa dimensão de meu sacerdócio, porque possa talvez nos ajudar a compreender melhor o assunto que estamos tratando. Após minha ordenação, eis como vivi o momento da consagração: fechei os olhos, abaixei a cabeça e busquei me isolar de tudo o que estava ao meu redor, para assim me ligar a Jesus, que, no cenáculo, pronunciou pela primeira vez as palavras: “Accipite et manducate…”, “Tomai e comei...”.
A própria liturgia favorecia esta atitude, ao fazer pronunciar as palavras da consagração em voz baixa e em latim, voltado para o altar e não para o povo. Mais tarde, um dia, compreendi que tal atitude, por si só, não expressava todo o significado de minha participação na consagração. Quem preside de forma invisível toda Missa é Jesus ressuscitado e vivo, o Jesus, para sermos exatos, que esteve morto, mas que agora vive para sempre (cf. Ap 1, 18). Mas este Jesus é o “Cristo total”, Cabeça e corpo indissociavelmente unidos. Assim, se é este Cristo total quem pronuncia as palavras da consagração, também eu as pronuncio com ele. Dentro do grande “Eu” da Cabeça, esconde-se o pequeno “eu” do corpo que é a Igreja e também e meu “eu” pequenino.
Desde então, quando, como sacerdote ordenado da Igreja, pronuncio as palavras da consagração “in persona Christi”, acreditando que, graças ao Espírito Santo, estas têm o poder de transformar o pão no corpo de Cristo e o vinho em seu sangue, ao mesmo tempo, como membro do corpo de Cristo, já não fecho mais os olhos, mas olho para os irmãos que estão diante de mim, ou, se celebro sozinho, penso naqueles a quem devo servir ao longo do dia e, voltado para eles, digo mentalmente, junto a Jesus: “Irmãos e irmãs, tomai e comei: este é meu corpo; tomai e bebei, este é meu sangue”.
Em seguida, encontrei uma singular confirmação nos escritos da venerável Concepciòn Cabrera de Armida, dita Conchita, a mística mexicana fundadora de três ordens religiosas e cujo processo de beatificação está em curso. A seu filho jesuíta, que estava prestes a ser ordenado sacerdote, ela escrevia: “Lembre-se, meu filho, que quando tiver em mãos a Hóstia Santa, não dirá: Eis o corpo de Cristo, eis o seu sangue, mas dirá: Este é meu corpo, este é meu sangue: deve operar-se em ti uma transformação total, deves perder-te nele, ser um outro Jesus” [6].
A oferenda do sacerdote e de toda a Igreja, sem aquela de Jesus, não seria nem santa, nem agradável a Deus, porque somos criaturas pecadoras; mas a oferenda de Jesus, sem aquela de seu corpo que é a Igreja, seria também incompleta e insuficiente: não, evidentemente, por termos alcançado a salvação, mas porque a recebemos e dela nos apropriamos. É nesse sentido que a Igreja pode dizer com São Paulo: “completo, na minha carne, o que falta às tribulações de Cristo” (cf. Col 1, 24).
Podemos ilustrar com um exemplo o que ocorre em toda Missa. Imaginemos que em uma família ocorre que um dos filho, o primogênito, é muito afeiçoado ao pai. Por ocasião de seu aniversário, decide dar-lhe um presente. Porém, antes de apresentá-lo, pede, em segredo, a todos os irmãos e irmãs que assinem também o presente. Este chega então às mãos do pai como uma homenagem por parte de todos os seus filhos e como um símbolo do amor de todos eles, mas, na verdade, apenas um deles pagou pelo valor do presente.
Jesus admira e ama ilimitadamente o Pai celeste. A ele quer oferecer, todos os dias até o fim do mundo, o presente mais precioso que se poderia conceber: sua própria vida. Na Missa, convida a todos os seus “irmãos”, que somos nós, a também assinarem o presente, “o meu e o vosso sacrifício”, como diz o sacerdote no Orate fratres. Mas, na verdade, sabemos que apenas um pagou pelo preço de tal presente. E que preço!

3. O corpo e o sangue
Para entender as consequências práticas para o sacerdote que derivam de tudo isso, é necessário ter em mente o significado da palavra “corpo” e da palavra “sangue”. Na linguagem bíblica, a palavra corpo, assim como a palavra carne, não indica, como seria para nós hoje, uma terceira parte da pessoa como na tricotomia grega (corpo, alma, nous); indica a pessoa em sua totalidade, enquanto esta vive em uma dimensão corpórea. (“O Verbo se fez carne” significa se fez homem, não ossos, músculos, nervos!). Por sua vez, “sangue” não significa uma parte de uma parte do homem. O sangue é a fonte da vida, de modo que a efusão do sangue é um símbolo da morte.
Com a palavra “corpo”, Jesus nos doou sua vida; com a palavra sangue, nos doou sua morte. Aplicado a nós, oferecer o corpo significa oferecer o tempo, os recursos físicos, mentais, um sorriso, típico de um espírito que vive em um corpo; oferecer o sangue é oferecer a morte. Não apenas o momento final da vida, mas tudo aquilo que desde já antecipa a morte: as mortificações, as doenças, a passividade, tudo o que é negativo na vida.
Tentemos imaginar a vida sacerdotal vivida com esta consciência. Toda o dia, não apenas o momento da celebração, é uma eucaristia: ensinar, governar, confessar, visitar os doentes, bem como o repouso e o lazer, tudo. Um professor espiritual, o jesuíta francês Pierre Olivant, dizia: “Le matin, moi prêtre, Lui victime; le long du jour Lui prêtre, moi victime: a manhã (naquele tempo a missa era celebrada somente de manhã), eu sacerdote, Ele (Cristo) vítima; ao longo do dia, Ele sacerdote, eu vítima. “Como faz bem um padre – dizia o Santo Cura dA’rs – em oferecer-se a Deus em sacrifício todas as manhãs” [7].
Graças à Eucaristia, também a vida do sacerdote idoso, doente e reduzido à imobilidade é preciosíssima para a Igreja. Este oferece “o sangue”.
Visitei certa vez um sacerdote que estava doente de câncer. Estava a se preparar para celebrar uma de suas últimas Missas, com a ajuda de um jovem sacerdote. Tinha também uma doença nos olhos, que fazia com que estivesse sempre em lágrimas. Me disse: “Jamais havia compreendido a importância de falar também em meu nome na Missa: “Tomai e comei; tomai e bebei...”. Hoje compreendo. É tudo o que me resta, e digo isto pensando em meus paroquianos. Compreendi o significado de ser “um pão partido” pelos outros.
4. A serviço do sacerdócio universal dos fiéis
Uma vez descoberta esta dimensão existencial da Eucaristia, é tarefa pastoral do sacerdote contribuir para que seja vivenciada também pelo restante do povo de Deus. O ano sacerdotal não representa uma oportunidade e uma graça somente para os padres, mas também para os leigos. A Presbyterorum ordinis afirma claramente que o sacerdócio ministerial está a serviço do sacerdócio universal de todos os batizados, a fim de que estes “possam oferecer-se a si mesmos como hóstia viva, santa e aceitável por Deus (Rm 12,1). De fato:
“É através do ministério dos presbíteros que o sacrifício espiritual dos fiéis é tornado perfeito por união ao sacrifício de Cristo, único mediador; este sacrifício, de fato, pela mão dos presbíteros e em nome de toda a Igreja, é oferecido na eucaristia de modo sacramental sem derramamento de sangue, até o dia da vinda do Senhor” [8].
A constituição Lumen gentium do Vaticano II, falando do “sacerdócio comum” de todos os fiéis, escreve: “os fiéis, por sua parte, concorrem para a oblação da Eucaristia... pela participação no sacrifício eucarístico de Cristo, fonte e centro de toda a vida cristã, oferecem a Deus a vítima divina e a si mesmos juntamente com ela ; assim, quer pela oblação quer pela sagrada comunhão, não indiscriminadamente mas cada um a seu modo, todos tomam parte na ação litúrgica.”
A Eucaristia é, portanto, ato de todo o povo de Deus, não apenas no sentido passivo, mas também ativamente, no sentido de que é realizada mediante a participação de todos. O fundamento bíblico mais claro desta doutrina é Romanos 12, 1: “Eu vos exorto, irmãos, pela misericórdia de Deus, a vos oferecerdes em sacrifício vivo, santo e agradável a Deus: este é o vosso verdadeiro culto”.
Comentando estas palavras de Paulo, São Pedro Crisólogo dizia: “o Apóstolo vê assim elevados todos os homens à dignidade sacerdotal, para oferecerem os próprios corpos como sacrifício vivo. Oh, imensa dignidade do sacerdócio cristão! O homem foi tornado vítima e sacerdote por si mesmo. Não busca mais fora de si algo a ser imolado a Deus, mas traz em si mesmo aquilo que sacrifica a Deus... Irmãos, este sacríficio é inspirado naquele de Cristo” [10].
Examinemos como o modo de viver a consagração que ilustrei pode ajudar também os leigos a unirem-se à oferenda do sacerdote. Também o leigo é chamado, como vimos, a oferecer-se a Cristo na Missa. Pode fazê-lo usando as mesmas palavras de Cristo: “Tomai e comei, este é meu corpo”? A meu ver, não há nada que se oponha a isso. Não fazemos o mesmo quando, para expressar nossa submissão à vontade de Deus, recorremos às palavras ditas por Jesus na cruz: “Pai, em tuas mãos entrego meu espírito”; ou quando, em momentos de provação, repetimos: “Afasta de mim este cálice”, ou qualquer outra palavra do Salvador? Usar as palavras de Jesus nos ajuda nos unirmos aos seus sentimentos.
A mística mexicana que mencionei anteriormente sentia dirigidas também a ela, e não apenas a seu filho sacerdote, as palavras de Cristo: “Desejo que, transformado pelo sofrimento, pelo amor e pela prática de todas as virtudes, erga-se aos céus este grito de tua alma em união com Cristo: este é meu corpo, este é meu sangue” [11].
O fiel leigo deve apenas estar consciente de que estas palavras, por ele proferidas na Missa, não têm o poder de fazer presentes o corpo e o sangue de Cristo sobre o altar. Ele não age, neste momento, in persona Christi; não representa Cristo, como faz o sacerdote ordenado, mas apenas se une a Cristo. Por isso, não deve dizer as palavras da consagração em voz alta, como o sacerdote, mas no próprio coração.
Imaginemos o que ocorreria caso também os leigos, no momento da consagração, dissessem silenciosamente: “Tomai e comei: este é meu corpo. Tomai e bebei: este é meu sangue”. Uma mãe de família celebra assim sua Missa, e depois retorna a casa para dedicar-se aos seus milhares de pequenos afazeres. Sua vida está literalmente esmigalhada; aparentemente, não deixará qualquer marca na história. Mas o que faz, definitivamente, não é algo a ser desprezado: uma eucaristia junto a Jesus! Uma freira diz, também ela, em seu coração, no momento da consagração: “Tomai e comei...”; em seguida, vai se dedicar ao seu trabalho cotidiano: crianças, doentes, idosos. A Eucaristia “invade” seu dia, que se torna então uma extensão da Eucaristia.
Mas gostaria de me deter em particular em duas categorias de pessoas: os trabalhadores e os jovens. O pão eucarístico, “fruto da terra e do trabalho do homem”, há de ter algo importante a dizer a respeito do trabalho humano – e não apenas o do agricultor. No processo que parte do grão semeado e culmina com o pão sobre a mesa, intervém a indústria com seu maquinário, o comércio, os transportes e uma infinidade de outras atividades - enfim, todo o trabalho humano. Ensinemos o trabalhador cristão a oferecer, na Missa, seu corpo e seu sangue, isto é, seu tempo, seu suor, sua fadiga. Assim, o trabalho não será mais, como na ótica marxista, algo alienante, cujo fim se restringe ao produto que está sendo vendido; passa a ser santificante.
E que dizer aos jovens sobre a Eucaristia? Basta que tenhamos uma coisa em mente: o que deseja o mundo dos jovens hoje? O corpo, nada mais que o corpo! O corpo, na mentalidade do mundo, é essencialmente um instrumento de prazer e desfrute. Algo a ser vendido, espremido enquanto ainda é jovem e atraente, para depois ser descartado, juntamente com a pessoa, quando já não serve mais a estes propósitos. Especialmente o corpo da mulher se tornou um artigo de consumo.
Ensinemos os jovens cristãos a dizerem, no momento da consagração: “Tomai e comei, este é meu corpo, que será entregue por vós”. O corpo, assim, passa a ser consagrado, torna-se algo sagrado, que já não pode mais ser entregue ao consumo, que já não pode ser vendido, uma vez que é uma oferenda. Tornou-se eucaristia com Cristo. O apóstolo Paulo escrevia aos primeiros cristãos: “O corpo, porém, não é para a prostituição, ele é para o Senhor... Então, glorificai a Deus no vosso corpo (1 Cor 6, 13.20). E explicava em seguida as duas formas de glorificar a Deus com o próprio corpo: ou com o matrimônio, ou com a virgindade, de acordo com a vocação de cada um (cf. 1 Cor 7, 1 ss.).
5. Com a obra do Espírito Santo
Onde encontrar a força, sacerdotes e leigos, para fazer essa oferenda total de si mesmo a Deus, para erguer-se da terra com as próprias mãos? A resposta é: o Espírito Santo! Cristo, como vimos na primeira Carta aos Hebreus, ofereceu-se a si mesmo ao Pai em sacrifício, “no Espírito eterno” (Eb 9, 14), isto é, graças ao Espírito Santo. Foi o Espírito Santo que, assim como suscitou no homem o impulso para a oração, suscitou nele o impulso e o desejo de oferecer-se ao Pai em sacrifício pela humanidade.
O Papa Leão XIII, em sua encíclica sobre o Espírito Santo, diz que “Cristo cumpriu toda a sua obra, e, especialmente, seu sacrifício, com a intervenção do Espírito Santo (praesente Spiritu)” [12] e na Missa, antes da comunhão, o sacerdote ora dizendo: “Senhor Jesus Cristo, Filho do Deus vivo, que por vontade do Pai e com a obra do Espírito Santo (cooperante Spiritu Sancto), morrendo deu a vida ao mundo...”. Isto explica por que na Missa há duas “epicleses”, isto é, duas invocações do Espírito Santo: uma, antes da consagração, sobre o pão e o vinho; e outra, após a consagração, sobre a totalidade do corpo místico.
Com as palavras de uma destas epicleses (Oração eucarística III), peçamos ao Pai o dom de seu Espírito para que sejamos, em cada Missa, como Jesus, sacerdotes e, ao mesmo tempo, sacrifício: “Que Ele (o Espírito Santo) faça de nós um sacrifício perene e agradável a vós, para que possamos entrar no reino prometido com os eleitos: com a Virgem Maria, Mãe de Deus, com os santos e apóstolos, os gloriosos mártires e como todos os santos nossos intercessores junto a vós”.
[Tradução de Paulo Marcelo Silva]
[Notas originais em italiano:]
[1] PO, 2.
[2] Didachè, 9-10.
[3] Agostino, Confessioni, 10,43.
[4] Eucharisticum mysterium, 3; cf. Agostino, De civitate Dei, X, 6 (CCL 47, 279).
[5] Gregorio Nazianzeno, Oratio 2, 95 (PG 35, 497).
[6] In Diario spirituale di una madre di famiglia, a cura di M.-M. Philipon, Roma, Città Nuova, 1985, p. 117.
[7] Citato da Benedetto XVI nella Lettera di indizione dell'anno sacerdotale.
[8] PO, 2.
[9] Lumen gentium, 10-11.
[10] Pietro Crisologo, Sermo 108 (PL 52, 499 s.).
[11] Diario, cit., p. 199.
[12] Leone XIII, Enc. "Divinum illud munus", 6.

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