
Documento de Aparecida 197

"Alter Christus" - Bento XVI

Por que motivo um Ano sacerdotal? Por que precisamente na recordação do Santo Cura d'Ars que, aparentemente, nada realizou de extraordinário?
A Providência Divina fez com que a sua figura fosse posta ao lado da de São Paulo. Com efeito, enquanto está prestes a terminar o Ano paulino, dedicado ao Apóstolo das nações, modelo de evangelizador extraordinário que realizou diversas viagens missionárias para difundir o Evangelho, este novo Ano jubilar convida-nos a olhar para um pobre camponês que se tornou um pároco humilde, consagrado ao seu serviço pastoral num pequeno povoado.
Se os dois Santos diferem muito pelos percursos de vida que os caracterizaram – um passou de região em região para anunciar o Evangelho, o outro recebeu milhares e milhares de fiéis, permanecendo sempre na sua pequena paróquia – contudo existe algo de fundamental que os irmana: e é a sua identificação total com o próprio ministério, a sua comunhão com Cristo que levava São Paulo a dizer: "Estou crucificado com Cristo! Já não sou eu que vivo, é Cristo que vive em mim" (Gl 2, 19-20). E São João Maria Vianney gostava de reiterar: "Se tivéssemos fé, veríamos Deus escondido no sacerdote como uma luz por detrás do vidro, como o vinho misturado com a água". A finalidade deste Ano sacerdotal, como escrevi na Carta enviada aos sacerdotes para esta ocasião é, portanto, favorecer a tensão de todo o presbítero para a perfeição espiritual da qual depende sobretudo a eficácia do seu ministério, e ajudar em primeiro lugar os presbíteros, e com eles todo o Povo de Deus, a redescobrir e revigorar a consciência do dom de Graça extraordinário e indispensável que o ministério ordenado representa para quem o recebeu, para a Igreja inteira e para o mundo, que sem a presença real de Cristo seria perdido.
Indubitavelmente, mudaram as condições histórias e sociais em que veio a encontrar-se o Cura d'Ars, e é justo perguntar-se como podem os sacerdotes imitá-lo na identificação com o seu próprio ministério nas sociedades globalizadoras contemporâneas. Num mundo em que a visão conjunta da vida abrange cada vez menos o sagrado, em cujo lugar a "funcionalidade" se torna a única categoria decisiva, a concepção católica do sacerdócio poderia correr o risco de perder a sua consideração natural, às vezes inclusive no interior da consciência eclesial. Não raro, quer nos ambientes teológicos, quer também na prática pastoral concreta e de formação do clero, confrontam-se e por vezes opõem-se dois conceitos diferentes de sacerdócio. A este propósito, salientei há alguns anos que existem "por um lado uma concepção social-funcional que define a essência do sacerdócio com o conceito de "serviço": o serviço à comunidade, no cumprimento de uma função... Por outro lado, existe a concepção sacramental-ontológica que, naturalmente, não nega a índole de serviço do sacerdócio mas, ao contrário, vê-a ancorada no ser do ministro e considera que este ser é determinado por um dom concedido pelo Senhor através da mediação da Igreja, cujo nome é sacramento" (J. Ratzinger, Ministero e vita del Sacerdote, em Elementi di Teologia fondamentale. Saggio su fede e ministero, Bréscia 2005, pág. 165). Também a passagem terminológica da palavra "sacerdócio" para os termos "serviço, ministério e encargo", é sinal desta concepção diferente. Além disso à primeira, a ontológico-sacramental, está vinculado o primado da Eucaristia, no binómio "sacerdócio-sacrifício", enquanto à segunda corresponde o primado da palavra e do serviço do anúncio.
Considerando bem, não se trata de duas concepções opostas, e a tensão que contudo existe entre elas deve ser resolvida a partir de dentro. Assim o Decreto Presbyterorum ordinis, do Concílio Vaticano II, afirma: "Com efeito, é pela mensagem apostólica do Evangelho que se convoca e congrega o Povo de Deus, de modo que todos... se ofereçam a si mesmos como "hóstia viva, santa e agradável a Deus" (Rm 12, 1). Mas é precisamente pelo ministério dos sacerdotes que se consuma o sacrifício espiritual dos fiéis, em união com o sacrifício de Cristo, único Mediador que, em nome de toda a Igreja, é pelos mencionados sacerdotes oferecido incruenta e sacramentalmente na Eucaristia, até que o próprio Senhor venha".Então, interroguemo-nos: "O que significa propriamente, para os sacerdotes, evangelizar? Em que consiste o chamado primado do anúncio?"Jesus fala do anúncio do Reino de Deus como da verdadeira finalidade da sua vinda ao mundo e o seu anúncio não é apenas um "discurso". Inclui, ao mesmo tempo, o seu próprio agir: os sinais e os milagres que realiza indicam que o Reino vem ao mundo como uma realidade presente, que em última análise coincide com a sua própria pessoa. Neste sentido, é importante recordar que, também no primado do anúncio, palavra e sinal são indivisíveis. A pregação cristã não proclama "palavras", mas a Palavra, e o anúncio coincide com a própria pessoa de Cristo, ontologicamente aberta à relação com o Pai e obediente à sua vontade. Portanto, um serviço autêntico à Palavra exige da parte do sacerdote que tenda para uma aprofundada abnegação de si mesmo, a ponto de dizer com o Apóstolo: "Já não sou eu que vivo, é Cristo que vive em mim". O presbítero não pode considerar-se "senhor" da palavra, mas servo. Ele não é a palavra mas, como proclamava João Baptista, cuja Natividade celebramos precisamente hoje, é "voz" da Palavra: "Voz que brada no deserto: preparai o caminho do Senhor, endireitai as suas veredas" (Mc 1, 3).
Pois bem, ser "voz" da Palavra não constitui para o sacerdote um mero aspecto funcional. Pelo contrário, pressupõe um substancial "perder-se" em Cristo, participante no seu mistério de morte e de ressurreição com todo o próprio eu: inteligência, liberdade, vontade e oferta do próprio corpo, como sacrifício vivo (cf. Rm 12, 1-2). Somente a participação no sacrifício de Cristo, na sua kénosi, torna autêntico o anúncio! E este é o caminho que deve percorrer com Cristo para chegar a dizer ao Pai, juntamente com Ele: "não se faça o que Eu quero, mas o que tu queres" (Mc 14, 36). Então, o anúncio comporta sempre também o sacrifício pessoal, condição para que o anúncio seja genuíno e eficaz.
Alter Christus, o sacerdote está profundamente unido ao Verbo do Pai que, encarnando, assumiu a forma de servo, se tornou servo (cf. Fl 2, 5-11). O presbítero é servo de Cristo, no sentido que a sua existência, ontologicamente configurada com Cristo, adquire uma índole essencialmente relacional: ele vive em Cristo, por Cristo e com Cristo ao serviço dos homens. Precisamente porque pertence a Cristo, o presbítero encontra-se radicalmente ao serviço dos homens: é ministro da sua salvação, nesta progressiva assunção da vontade de Cristo, na oração, no "estar coração a coração" com Ele. Assim, esta é a condição imprescindível de cada anúncio, que exige a participação na oferenda sacramental da Eucaristia e a obediência dócil à Igreja.
Com as lágrimas nos olhos, o Santo Cura d'Ars repetia com frequência: "Como é assustador ser sacerdote!". E acrescentava: "Como é lastimável um sacerdote que celebra a Missa como se fosse um facto ordinário! Como é desventurado um sacerdote sem vida interior!". Possa o Ano sacerdotal levar todos os presbíteros a identificar-se totalmente com Jesus crucificado e ressuscitado para que, à imitação de São João Baptista, estejam prontos a "diminuir" a fim de que Ele cresça; a fim de que, seguindo o exemplo do Cura d'Ars, sintam de maneira constante e profunda a responsabilidade da sua missão, que é sinal e presença da misericórdia infinita de Deus. Confiemos a Nossa Senhora, Mãe da Igreja, o Ano sacerdotal há pouco iniciado e todos os sacerdotes do mundo.
ARTIGO: Não se “vive como padre”, mas se “é padre”!

(Pontificale Romanum. De Ordinatione Episcopi, presbyterorum et diaconorum, editio typica altera (Typis Polyglottis Vaticanis 1990).
É com grande alegria que me dirijo a todos vós, neste “tempo santo”, que a Divina Providência oferece-nos, tendo ainda diante dos olhos e presente no coração a experiência espiritual da inauguração do Ano Sacerdotal, durante as Segundas Vésperas da Solenidade do Sagrado Coração de Jesus, presidida pelo Santo Padre no dia 19 de junho último, na Basílica de São Pedro.
Durante todo o Ano Sacerdotal, na segunda quinzena de cada mês e tendo como base os textos da Liturgia de Ordenação, terei a alegria de oferecer-vos uma breve reflexão vinda do coração e inspirada no amor pelo Sacerdócio católico. Espero que possa ser um modesto auxílio e contribuição para a meditação comum, sendo uma “companhia cristã e sacerdotal” neste Ano no qual, com o Sucessor de Pedro, todos queremos experimentar uma profunda “renovação espiritual”.
A Igreja, na sua materna sabedoria, sempre ensinou-nos que o ministério nasce a partir do encontro de duas liberdades: divina e humana. Se, por um lado devemos sempre recordar-nos que “ninguém pode arrogar-se tal encargo. É-se chamado a ele por Deus” (CIC n. 1578), por outro lado, evidentemente, é sempre um “eu humano criado” - com a própria história e identidade, com as próprias qualidades e também com os próprios limites - que responde ao chamado divino.
A tradução litúrgico-sacramental do assimétrico e necessário diálogo entre a liberdade divina que chama, e a liberdade humana que responde, é representada pelas perguntas feitas a cada um de nós pelo Bispo, durante o Rito da nossa ordenação, antes da imposição das mãos. Nos próximos meses, percorreremos juntos este “diálogo de amor e de liberdade”.
Foi-nos perguntado individualmente: “Queres exercer o ministério sacerdotal por toda a vida, colaborando com o Bispo no serviço ao Povo de Deus, guiado pelo Espírito Santo?”. Ao que respondemos: “Quero”.
A resposta, livre e consciente, fundamenta-se em um ato explícito da vontade (”Quereis exercer”: “sim, quero”) que, como bem sabemos, deve ser continuamente iluminado pelo juízo da razão e sustentado pela liberdade, para que não se transforme em voluntarismo estéril ou - o que seria ainda pior - para que não se transforme, com o passar do tempo, em infidelidade. O ato da vontade é, por sua natureza, estável, justamente porque é um ato humano, no qual se exprimem as qualidades fundamentais das quais o Criador nos fez partícipes.
O compromisso que assumimos é “para toda a vida” e, portanto, não está relacionado, de forma mais ou menos evidente, a entusiasmos e gratificações, nem muito menos a sentimentos. O sentimento tem um papel determinante para o conhecimento da verdade e, desde que seja colocado, como uma lente, no seu “justo lugar”, não será um obstáculo para o conhecimento, mas sim algo que o favorecerá. Todavia, trata-se tão somente de um dos fatores do conhecimento, não podendo ser determinante.
A nossa vontade consentiu de exercer “o ministério sacerdotal”, não outras “profissões”! Antes de tudo, somos chamados a ser sempre sacerdotes, - como nos recordam os Santos - em todas as circunstâncias, exercendo com todo o nosso ser o ministério ao qual fomos chamados. Não se “vive como padre”, mas se “é padre”!
Caros irmãos, durante este Ano Sacerdotal renovemos a comoção de nos levantarmos todas as manhãs recordando-nos quem somos, aquilo que o Senhor quis que fôssemos na Igreja: para Ele, para o Seu povo e para a nossa própria salvação eterna!
Cada um de nós faz parte de um “organismo”, e somos chamados a colaborar e a mostrar, de diversas formas, a Cabeça deste Corpo. Sempre “colaborando com o Bispo”, em obediência ao bem que Ele nos indica e “guiados pelo Espírito Santo”, ou seja, em um clima de oração constante. Só quem reza pode escutar a voz do Espírito Santo, como bem recordou o Santo Padre na Audiência Geral de 1º de Julho último: “Quem reza não tem medo; quem reza nunca está sozinho; quem reza se salva!”.
Que a Bem-Aventurada Virgem Maria, Mulher do “tudo” e do “para sempre”, nos assista e nos proteja! Bom prosseguimento do Ano Sacerdotal!
+ Mauro Piacenza
Arcebispo tit. de Victoriana
Secretário
Enquete da Semana - resultado
Documento de Aparecida 196

MÚSICA: Quando me chamaste
Medo meu Senhor, de não corresponder.
Me tranquilizaste ao contar-me teu segredo.
Já disseste a tantos que não tivessem medo.
Quando tu nos chamas, chamas pra valer.
Vais chamando sempre e vais dando os instrumentos,
Junto às mil sementes que nos mandas semear.
Só não vais comigo, se eu teimar em ir sozinho
Do vocacionado és a verdade e o caminho.
Não abandonas a quem tu chamas.
Irás comigo se contigo prosseguir.
Se for difícil seguir teus passos,
Darás um jeito de me conduzir.

Documento de Aparecida 195

ARTIGO: "Eucaristizar" tudo

Cardeal Van Thuân
A Eucaristia contribui para fazer do sacerdote um homem de Deus, um santo.
Muitas vezes pensamos que temos de ser santos para poder celebrar dignamente. Poucas vezes, ou nunca pensamos que a celebração da Eucaristia contribui para fazer do sacerdote um homem de Deus.
A celebração faz do sacerdote um santo. Minha formação se inspirou na vida do Cura D´Ars, São João Maria Vianney e do Santo Pio.
Na prisão, quando eu celebrava sozinho, João e Pio estavam sempre diante de mim e celebravam comigo.
A celebração da Missa nos santifica
Não devemos ser santos para celebrar a Missa, mas celebrar a Missa para sermos santos. Transformar tudo em Eucaristia.
"Eucaristizar"
Transformar tudo em Eucaristia, para podermos ter o homem eucarístico, a Igreja eucarística, a terra eucarística, e assim, toda a vida será Eucaristia.
PERFIL DE UM SACERDOTE

(17 de abril de 1928 — Roma, 17 de setembro de 2002)
Vida
Nasceu numa família de oito filhos. Sua família contava com numerosos mártires da fé. Sua mãe, todas as noites, contava-lhe histórias bíblicas e narrava-lhe testemunhos de mártires, especialmente de seus antepassados.
Foi ordenado sacerdote em 11 de junho de 1953. Continuou os seus estudos em Roma onde formou-se em Direito Canônico. Retornando ao Vietnam foi encarregado da formação dos padres da sua diocese como reitor e professor do seminário e, em 24 de junho de 1967 foi nomeado bispo da diocese de Nha Trang, no centro do Vietnam, diocese pela qual sempre confessou predileção.
Em 1975 foi nomeado por Paulo VI arcebispo coadjutor de Saigon. Sua nomeação foi recusada pelo governo comunista, que no dia 15 de agosto de 1975 - dia de Nossa Senhora da Assunção - o convoca ao palácio do governo e o coloca em prisão domiciliar. Posteriormente foi preso por treze anos. Em 1976 esteve no cárcere da prisão de Phu Khanh, após foi conduzido ao campo de reeducação de Vinh Phu no Vietnam do Norte, após em prisão domiciliar em Giang Xa e finalmente em Hanoi. Foi libertado em 21 de novembro de 1988 e conduzido à residência do arcebispo de Hanoi.
“Os nove primeiros anos foram terríveis: uma tortura mental, no vazio absoluto, sem trabalho, caminhando dentro da cela desde a manhã às nove e meia da noite para não ser destruído pela artrose, no limite da loucura”.
Buscava conversar com os carcereiros, que resistiam, mas logo eram seduzidos por sua gentileza e inteligência. Contava-lhes sobre países e culturas diferentes. Isso chamava sua atenção e instigava a curiosidade. Logo começavam a fazer perguntas, o diálogo se estabelecia, a amizade se enraizava. Chegou a dar aulas de inglês e francês.
No começo, a cada semana os guardas eram substituídos, mas logo as autoridades, para evitar que o exército todo fosse “contaminado”, deixou uma dupla de carcereiros fixa. Estes espantavam-se de como o prisioneiro pudesse chamar de amigos os seus carcereiros, mas ele afirmava que os amava porque esse era o ensinamento de Jesus.
O Caminho da Esperança
Como o amor é criativo, Van Thuân encontrou também um jeito de se comunicar com seu rebanho: num dia de outubro de 1975, fiz um sinal a um menino de sete anos, Quang, que regressava da missa às 5 horas, ainda escuro: ‘Diz à tua mãe que me compre blocos velhos de calendários’. Mais tarde, também na escuridão, Quang me traz os calendários, e em todas as noites de outubro e novembro de 1975 escrevi da prisão minha mensagem ao meu povo. Cada manhã o menino vinha recolher as folhas para levá-las à sua casa e fazer que seus irmãos e irmãs copiassem-na. Assim foi escrito o livro “O Caminho da Esperança”, posteriormente publicado em oito idiomas: vietnamita, inglês, francês, italiano, alemão, espanhol, coreano e chinês.
Sobre a sua prisão pelo regime comunista disse: “Disseram-me que minha nomeação era fruto de um complô entre o Vaticano e os imperialistas para organizar a luta contra o regime comunista, contava Van Thuân”.
O sacerdote
Ele narrava que, precisamente no cárcere, tinha compreendido que o fundamento da vida cristã consiste em "escolher unicamente a Deus", abandonando-se de maneira integral nas suas mãos paternas.
Confessava que a sua vocação sacerdotal estava vinculada de Ele. Observava que "os mártires nos ensinaram a dizer "sim": um "sim" incondicional e sem limites ao amor do Senhor; todavia, também um "não" às tentações, às conivências e à injustiça, talvez com a finalidade de salvar a sua própria vida". E acrescentava que não se tratava de heroísmo, mas de fidelidade amadurecida, voltando o olhar para Jesus, modelo de cada testemunha e de todos os mártires. Uma herança a ser acolhida em cada dia, ao longo de uma vida cheia de amor e de mansidão.
"Santa Maria... rogai por nós... na hora da nossa morte"
Na prisão, quando lhe era impossível rezar, ele recorria a Maria: "Mãe, vedes que me encontro no limite extremo e não consigo recitar qualquer prece. Então... colocando tudo das vossas mãos, simplesmente repetirei: "Ave Maria!".
Eucaristia
Sempre inspirado pela criatividade amorosa, Van Thuân escreveu uma carta aos amigos pedindo que enviassem um pouco de vinho, como remédio para doenças estomacais. Assim, a cada dia, podia trazer "Jesus eucarístico" à prisão. Ele celebrava com três gotas de vinho e uma gota de água na palma da sua mão. Este era o seu altar, a sua catedral. O Corpo de Cristo era o seu "remédio". Os pedacinhos de pão consagrado eram conservados em papel de cigarro, guardado no bolso com reverência. De madrugada, ele e os poucos católicos detidos ali davam um jeito de adorar o Senhor escondido com eles.
Por isso, narrava com emoção: "Todas as vezes eu tinha a oportunidade de estender as minhas mãos e de me cravar na Cruz juntamente com Jesus, de beber com Ele o cálice mais amargo. Cada dia, recitando as palavras da consagração, eu confirmava com todo o meu coração e com toda a minha alma um novo pacto, uma aliança eterna entre mim e Jesus, mediante o seu Sangue que se misturava ao meu".

Para completar sua obra, pediu: “Amigo, você me consegue um pedaço de fio elétrico?” Este ficou espantado, sabia que quando prisioneiros conseguem fios, suicidam-se. Mas Van Thuân explicou: “Queria fazer uma correntinha para levar minha cruz”. Saindo da prisão, com uma moldura de metal, aquele pedaço de madeira tornou-se sua cruz peitoral.
À luz da sua experiência pessoal, ele acrescentava que nós somos chamados a anunciar a todas as pessoas o "Evangelho da Esperança"; em seguida, especificava: somente com a radicalidade do sacrifício é possível cumprir esta vocação, apesar da subsistência das provações mais duras.
Depois, dizia que "valorizar cada uma das dores, como um dos inúmeros rostos de Jesus crucificado, e uni-lo ao seu significa entrar na sua própria dinâmica de sofrimento-amor; quer dizer participar na sua luz, na sua força e na sua paz; significa voltar a encontrar em nós mesmos uma renovada e mais completa presença de Deus" (Testemunhos da Esperança, Roma 2001, pág. 124).
Van Thuân foi libertado no dia 21 de novembro de 1988. Tão logo chegou a Roma foi-lhe dado conhecimento que o governo do Vietnam não desejava o seu retorno ao país. Dedicou seus últimos anos ao Pontifício Conselho "Justiça e Paz" onde foi Vice-presidente e Presidente.
Cardinalato
Escreveu mais um livro: "Testemunhas da esperança" (Retiro ministrado ao papa João Paulo II e a cúria romana pela passagem do Jubileu do Ano 2000) no qual relata sua experiência de prisioneiro. Fazia questão de dizer que não se trata de um livro para fazer denúncias, mas testemunhar o dom da esperança.
Em 21 de fevereiro de 2001 foi escolhido como cardeal pelo papa João Paulo II; o cardeal van Thuân foi levado em 16 de setembro de 2002 ao hospital romano Pio XI, padecendo de câncer, na idade de 74 anos, faleceu no dia 17 de setembro de 2002. Seus funerais foram presididos pelo Papa João Paulo II na Basílica São Pedro, em 20 de setembro de 2002. João Paulo II recordava: "Mihi vivere Christus est!" (Fl 1, 21). Fiel até à morte, o Cardeal François-Xavier Nguyên Van Thuân, fez sua a expressão do Apóstolo Paulo. Ele conservou a serenidade e até mesmo a alegria, durante a sua prolongada e dolorosa hospitalização. Nos últimos dias, quando já era incapaz de falar, permanecia com o olhar fixo no Crucifixo posto à sua frente.” E dizia: "No abismo dos meus sofrimentos... jamais cessei de amar a todos, sem excluir ninguém do meu coração".
Beatificação
Em 18 de abril de 2007, Monsenhor Giampaolo Crepaldi, secretário do Pontifício Conselho Justiça e Paz anunciou a abertura da causa de beatificação do cardeal François-Xavier Nguyên Van Thuân.
FONTES:
Homilia de João Paulo II nos funerais do cardeal Van Thuân, em 20 de setembro de 2002.
2. NGUYEN VAN THUÂN, Francis Xavier, “Cinco Pães de Dois Peixes, Editora Santuário.
3. NGUYEN VAN THUÂN, Francis Xavier. O Caminho da Esperança. Bauru: Edusc, 1999.
4. NGUYEN VAN THUÂN, Francis Xavier. Testemunhas da Esperanças". Cidade Nova 2002.
Documento de Aparecida, 194

Resultado da enquete

Seu testemunho e serviço - 50%
"Braços levantados para Deus", diz o papa

Documento de Aparecida 193

PERFIL de um sacerdote e doutor da Igreja
Tomás, que nasceu em Aquino, em 1225, começou seus estudos, aos cinco anos de idade, no mosteiro beneditino de Monte Cassino.
A resposta convencional não satisfazia o desejo de saber daquele "frade" em miniatura. E corria para junto de outro religioso:
- Frei, quem é Deus? Este diminuto "monge" seria o futuro Santo Tomás de Aquino, Doutor da Igreja que ilumina os fundamentos da Teologia que recebeu o seu nome – tomista.
Freqüentou a Universidade de Nápoles. Decidiu entrar para a Ordem de São Domingos. Não foi por acaso que escolheu a Ordem de São Domingos, que busca unir ciência e fé. Este sempre foi seu objetivo. Mas, onde foi ele buscar tanto saber? Santo Tomás dizia ter aprendido mais em suas longas preces diante do Santíssimo Sacramento do que nos livros de teologia. Para ele, a Eucaristia é “Sacramento do amor que produz amor”. Assim apresentava a Eucaristia: “Eis o pão dos Anjos que se faz alimento dos caminhantes” (“Ecce panis Angelorum, factus cibus viatorum”). E rezava:
Vós, a quem chamamos
Afastai para longe de mim a dupla obscuridade na qual nasci:
Documento de Aparecida 192
ORAÇÃO de um sacerdote
Que eu ame com o teu Coração...
Que eu fale com a tua língua.
Que eu ouça somente com teus ouvidos.
Que eu saboreie aquilo que tu gostas.
Que as minhas mãos sejam as tuas.
Que os meus pés sigam os teus passos.
Que eu reze com as tuas orações.
(Bem-aventurado Tiago Alberione)
Documento de Aparecida 191
Identidade e missão dos presbíteros
Valorizamos e agradecemos com alegria porque a imensa maioria dos presbíteros vivem seu ministério com fidelidade e são modelo para os demais, que reservam tempo para sua formação permanente, porque cultivam uma vida espiritual que incentiva os demais presbíteros, centrada que está na escuta da Palavra de Deus e na celebração diária da Eucaristia: “Minha Missa é minha vida e minha vida é uma Missa prolongada!” (Alberto Hurtado). Agradecemos também àqueles que foram enviados a outras Igrejas motivados por um autêntico sentido missionário.
Carta da presidência da CNBB
“Dou graças ao meu Deus, cada vez que me lembro de vós nas minhas orações por cada um de vós. É com alegria que faço minha oração, por causa da vossa comunhão no anúncio do evangelho...” (Fl 1,3-5a).
Na solenidade do Sagrado Coração de Jesus, dia de oração pela santificação do clero, por ocasião da abertura do Ano Sacerdotal, convocado por S. Santidade o Papa Bento XVI, nós Bispos do Brasil, queremos manifestar nossa profunda gratidão a todos os presbíteros que diuturnamente se colocam a serviço do Povo de Deus.
Não obstante as fragilidades, reconhecemos o grande dom de Deus na vida e no ministério dos presbíteros do Brasil. Fazemos nossas as palavras do Cardeal Cláudio Hummes no 12º Encontro Nacional de Presbíteros: “de modo geral, são homens dignos, bons, homens de Deus, admiráveis, generosos, honestos, incansáveis na doação de todas as suas energias ao seu ministério, à evangelização, em favor do povo especialmente a serviço dos pobres e dos marginalizados, dos excluídos e dos injustiçados, dos desesperados e sofridos de todo tipo, deles nos orgulhamos, os veneramos e amamos realmente, com claro reconhecimento do trabalho pastoral que realizam”. Neste Ano Sacerdotal, que se estende de 19 de junho de 2009 a 19 de junho de 2010, desejamos que seja dinamizada a Pastoral Presbiteral, a fim de que venha a ser verdadeiro instrumento de comunhão entre os presbíteros, auxiliando-os nas mais diversas circunstâncias.
Para tal sugerimos as indicações, divulgadas pela CNBB, para o Ano Sacerdotal.
O Ano Sacerdotal seja espaço para intensificar e promover a santificação dos sacerdotes e ajudá-los a perceberem cada vez mais a importância do seu papel e de sua missão na Igreja e na sociedade contemporânea.
Ao celebrarmos os 150 anos da morte de São João Batista Maria Vianney, o Santo Cura D’Ars, invocamos sua proteção e inspiração para a vivência do tema do Ano Sacerdotal “fidelidade de Cristo, fidelidade do sacerdote”.
Brasília, 18 de junho de 2009
Dom Geraldo Lyrio Rocha - Arcebispo de Mariana, Presidente da CNBB
Dom Luiz Soares Vieira - Arcebispo de Manaus, Vice-Presidente da CNBB Dom Dimas Lara Barbosa Bispo - Auxiliar do Rio de Janeiro -
Bento XVI proclama o Ano Sacerdotal

Amados irmãos no sacerdócio,
Ano Sacerdotal no Brasil e no Mundo

De 19 de junho de 2009 a junho de 2010, a Igreja, no mundo, celebra o Ano Sacerdotal, convocado, pelo papa Bento XVI.
Motivação
Com o tema “Fidelidade de Cristo, Fidelidade do sacerdote”, a convocação acontece por ocasião do 150º aniversário da morte do padre francês, São João Maria Vianney, hoje padroeiro dos párocos, e a partir do dia 19, proclamado pelo papa, padroeiro dos sacerdotes de todo o mundo.
Abertura
A abertura se deu no dia 19, com uma celebração, em Roma, presidida pelo papa Bento XVI. Neste dia a Igreja comemorou a solenidade do Sagrado Coração de Jesus e Dia de Santificação Sacerdotal.
Publicação prevista
No Ano jubilar, será publicado um Diretório para os Confessores e Diretores Espirituais, assim como uma compilação de textos do papa sobre os temas essenciais da vida e da missão sacerdotais na época atual.
Objetivo do Ano Sacerdotal
Segundo Bento XVI, o objetivo deste ano é, “ajudar a perceber cada vez mais a importância do papel e da missão do sacerdote na Igreja e na sociedade contemporânea”.
Encontro e Palestra no Pio Brasileiro
Como parte das celebrações do Ano Sacerdotal, cerca de 100 sacerdotes, religiosos e religiosas participaram, no dia 6 de maio, no Colégio Pio Brasileiro, em Roma, de uma conferência realizada pelo cardeal prefeito da Congregação para o Clero, dom Cláudio Hummes. O tema do encontro foi “A situação dos Presbíteros no mundo e o Ano Sacerdotal”.
No Brasil, testemunhos
A Igreja no Brasil vai celebrar o Ano Sacerdotal de várias formas, com destaque para a série de publicações biográficas de padres que serviram à Igreja: José Antônio Maria Ibiapina, Josimo Tavares, Alberto Antoniazzi, Cícero Romão Batista, Emanuel Gomes González, entre outros. Oportunidade do Ano Sacerdotal
O presidente da Comissão Episcopal Pastoral para os Ministérios Ordenados e a Vida Consagrada, da CNBB, dom Esmeraldo Barreto de Farias, afirmou que o Ano Sacerdotal é uma maneira de motivar o estilo de vida do presbítero. “É uma ótima oportunidade para que cada diocese possa contribuir para o aprofundamento e a renovação das motivações na vida de cada presbítero a fim de que possa, com alegria, continuar respondendo, a cada dia, ao chamado de Deus para o seguimento a Jesus Cristo, o bom Pastor, servo missionário, como ministro ordenado em meio à realidade de hoje”. Padre Reginaldo de Lima, assessor da Comissão, acredita que o Ano Sacerdotal vai proporcionar aos presbíteros a intensificação de sua espiritualidade e ao mesmo tempo recuperar a imagem de figuras emblemáticas do presbitério brasileiro. “Vamos trabalhar para que as biografias de vários padres brasileiros sejam recuperadas. Além disso, o Ano Sacerdotal vai dar ênfase à espiritualidade dos padres.
O Cura D'Ars
São João Maria Batista Vianney nasceu em Lion, Dardilly, na França, em 8 de maio de 1786. Foi ordenado sacerdote depois de vencer muitas dificuldades, inclusive nos estudos. Considerado o padroeiro dos párocos, o padre ficou mundialmente conhecido por Cura de Ars, por ter dedicado toda sua vida à pequena cidade de Ars, na França. Ali, ele foi um admirável exemplo de vida cristã, exercitou uma eficaz pregação voltada para a mortificação, a oração e a caridade. Maria Vianney faleceu em Ars, com odor de santidade, em 1859, e foi canonizado pelo papa Pio XI em 1º de novembro de 1924. Sua festa litúrgica é comemorada em 4 de agosto, tradicionalmente conhecida pela Igreja como Dia do Padre.