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ARTIGO: Catequese, caminho para o discipulado (Ano Catequético)



Catequese, educação permanente da fé

Conforme o evangelista São Marcos, após a prisão de João Batista, Jesus foi para a Galiléia, onde começou a anunciar o Evangelho dizendo: “completou-se o tempo e o Reino de Deus está próximo: fazei penitência e crede no Evangelho” (Mc 1,14-15).

Daí em diante, anunciava a todos a palavra da salvação. Chamou diversas pessoas a segui-lo mais de perto. A estas instruía a sós. A todos ensinava com parábolas, sinais e prodígios.

Após sua morte e ressurreição, confiou aos apóstolos a missão que recebera do Pai, enviando-os a todos os povos para ensinar a todos o que Ele mesmo havia dito e batizando em nome da Trindade a quem cresse (Mc 1,14-18; Mt 28,16-20).

Com a força do Espírito Santo, em Pentecostes, Pedro, em nome dos outros Apóstolos, sem o medo e a covardia manifestados durante a paixão e morte de Jesus de Nazaré, proclamou que o mesmo era o Messias prometido. Fora crucificado e morto, mas Deus o ressuscitara, constituindo-o Senhor e Cristo. A este anúncio vibrante, os ouvintes perguntavam o que fazer. A resposta era: arrependimento e batismo em nome de Jesus Cristo para a remissão dos pecados (At 2,14-41).

Depois, os Apóstolos partiram em missão. Exortavam a todos a seguir Cristo, caminho de salvação. Aos que acolhiam o primeiro anúncio, proporcionavam o conhecimento e a experiência de Cristo para serem batizados em seu nome. Em grupo, por um longo tempo, em geral de três anos, eram iniciados na vida em Cristo. Este processo lhes garantia um encontro pessoal progressivo com Cristo. Chamava-se catecumenato. Era uma verdadeira iniciação à fé e vida da comunidade dos discípulos do Ressuscitado, através de uma catequese vivencial. “A catequese introduzia progressivamente na participação da vida cristã dentro da comunidade. Animada pela fé, sustentada pela esperança, exercida através da caridade fraterna, a própria vida da comunidade fazia parte do conteúdo da catequese. Esta, por sua vez, era o instrumento a serviço da uma entrada consciente na comunidade de fé e da perseverança nela. Catequese e comunidade caminhavam juntas” (CNBB, Catequese renovada, coleção Documentos, n° 26, n° 7).

A catequese teve esta característica de iniciação da vida em Cristo na comunidade até pelo final dos anos 300. O Império romano, que perseguira os cristãos, adotou o cristianismo como religião oficial. Em breve, praticamente todos foram batizados, não passando mais por aquele tempo maior de catequese como experiência de vida em Cristo. A catequese passou a ser mais um processo de integração, de mergulho no ambiente cristão que marcava a sociedade. Assim foi entendida e realizada até o ano 1500. Como os adultos eram considerados todos cristãos, as crianças eram batizadas logo que nasciam e tinham uma catequese posterior em vista da eucaristia.

A partir de 1500, por causa de confusões doutrinárias e enfraquecimento da vida cristã, a catequese passou ser um processo de aprendizagem individual, sem muita insistência na vida comunitária. Ela se tornou mais instrução, quase exclusivamente em vista da primeira comunhão.

Com os diversos movimentos de renovação eclesial a partir do ano 1900 e especialmente com o Concílio Vaticano II de 1962 a 1965, a catequese passou a ser entendida como educação permanente para a comunhão e a participação na comunidade de fé. Fala-se então de catequese de iniciação e de catequese permanente. A de iniciação prepara – antes ou após o batismo, para o decisivo compromisso da fé. A permanente ajuda a amadurecer continuamente a profissão de fé, a proclamá-la na Eucaristia e a renovar os compromissos que ela implica (Congregação para o Clero, Diretório Geral para a Catequese, n° 82).

Segundo o Diretório Nacional de Catequese (CNBB, coleção Documentos, n° 84, de 2006, n° 36 ss), o batismo de crianças, que as introduz na vida da graça, exige uma continuação, uma iniciação vivencial nos mistérios da fé (a pessoa de Jesus, a Igreja, a liturgia, os sacramentos) através da catequese. Esse processo catequético possibilita também aos já batizados (adultos, jovens, crianças) assumir conscientemente a própria vida cristã. Para os não batizados, a catequese se apresenta como processo catecumenal para a vida cristã. Ela tem como finalidade levar o catequizando a conhecer, acolher, celebrar e vivenciar o mistério de Deus, manifestado em Jesus Cristo, que nos revela o Pai e nos envia o Espírito Santo. Ela deve proporcionar o conhecimento da fé, a iniciação litúrgica, a formação moral, a vida de oração, a vida comunitária, o testemunho e a missão. Pelo Documento de Aparecida (n° 298 e 299), a catequese não deve ser só ocasional, reduzida a momentos prévios aos sacramentos ou à iniciação cristã, mas sim “itinerário catequético permanente”. Não pode se limitar a uma formação meramente doutrinal, mas precisa ser verdadeira escola de formação integral, levando a cultivar a amizade com Cristo na oração, o apreço pela celebração litúrgica, a experiência comunitária, o compromisso apostólico mediante um permanente serviço aos demais.

Ano Catequético, novo impulso à catequese

A catequese faz parte da natureza da Igreja. Não há Igreja sem catequese. “Ela está na base de todo o trabalho da Igreja particular. O próprio modo de ser Igreja, com as relações humanas que se estabelecem, a qualidade do testemunho, as prioridades estabelecidas, determina o estilo da catequese, que reflete o rosto da Igreja particular de onde brota” (Diretório Nacional de Catequese, n° 231)

Por esta importância da catequese, a Assembléia Geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil de 2006, por unanimidade, aprovou a realização de um Ano Catequético em 2009.

Este Ano Catequético será realizado no cinquentenário do primeiro Ano Catequético no Brasil (1959) e terá sua abertura no segundo domingo de páscoa, 19 de abril, e seu encerramento na festa de Cristo Rei, 22 de novembro, Dia Nacional do Leigo e da Leiga.

Cada diocese, paróquia e comunidade, em sua criatividade, desenvolverá atividades próprias para a abertura, desenvolvimento e encerramento do Ano Catequético.

A Diocese de Erexim fará a abertura, dia 19 de abril, em momento de oração, motivação e pronunciamento do Bispo, na Catedral, antes da missa das 09:00, com transmissão por rádios da região, em cadeia com a Difusão, que normalmente transmite a missa daquele horário.

Algumas atividades já definidas são: Encontro Diocesano de Catequistas, dia 13 de setembro em Barão de Cotegipe; Jornada Estadual de Catequistas, dia 24 de maio, em Santa Cruz do Sul; Terceira Semana Brasileira de Catequese, de 06 a 11 de outubro, em Itaici, Indaiatuba, SP. Durante a Assembléia dos Bispos, de 22 a 30 de abril, haverá também uma celebração especial do Ano Catequético. O Dia do Catequista, 30 de agosto, ganhará conotação especial neste ano.

O Ano Catequético não é evento isolado. Está inserido no contexto de recepção do Documento de Aparecida, com o projeto nacional de evangelização O Brasil na Missão Continental: a alegria de ser discípulo missionário, de implementação das Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil 2008-2010, do Sínodo sobre a Palavra, realizado em outubro passado, do 12° Encontro Intereclesial nacional de CEBs (21 a 25 de julho, Porto Velho, RO) e da Campanha da Fraternidade. O Ano Catequético se realiza também nos 30 anos da Exortação Apostólica sobre a Catequese, de João Paulo II, e da 3ª Conferência Geral dos Bispos da América Latina e Caribe, realizada em Puebla, de 27 de janeiro a 13 de fevereiro de 1979. Em parte, ele se desenvolverá dentro do Ano Paulino, a ser encerrado dia 29 de junho.

O tema deste Ano Catequético é: Catequese, caminho para o discipulado, e o lema: Nosso coração arde quando ele fala, explica as escrituras e parte pão (Cf Lc 24,13-35).

O objetivo geral é: Dar um impulso à catequese como serviço eclesial e como caminho para o discipulado. Os objetivos específicos são diversos: 1°) intensificar a formação catequética dos catequistas, dos agentes de pastoral, dos religiosos/as e dos ministros ordenados; 2°) incentivar a instituição do Ministério de Catequistas; 3°) impulsionar o estudo das Sagradas Escrituras; 4°) aprofundar o Primado da Palavra de Deus na vida da Igreja; 5°) cultivar a dimensão litúrgica da catequese; 6°) estimular a dimensão catequética nas comunidades na perspectiva da pastoral de conjunto; 7°) dar a devida ênfase à catequese com adultos, com jovens e junto à pessoa com deficiência; 8°) incentivar na catequese a inspiração catecumenal; 9°) estimular a implementação da disciplina catequética nos cursos de teologia; 10°) intensificar a dimensão missionária da catequese por meio da espiritualidade do seguimento de Jesus Cristo; 11°) educar para a vivência de uma fé comprometida com as urgentes mudanças da nossa sociedade, tendo presente o princípio da interação vida-fé; 12°) favorecer na catequese a abertura ao outro, à realidade, ao ecumenismo e ao diálogo inter-religioso.

Subsídio precioso para o aprofundamento do tema e do lema do Ano Catequético é seu texto base. Ele tem três partes, seguindo o método ver-julgar-agir, confirmado pelo Documento de Aparecida, desenvolvidas à luz da conhecida passagem dos discípulos de Emaús (Lc 24,13-35). Assim, ele nos convida a aprender: caminhando com o Mestre (Jesus se aproxima e escuta); ouvindo o Mestre (Ele nos revela as Escrituras); agindo com o Mestre (ao partir o pão, eles o reconheceram e retornaram ao caminho de Jerusalém).

Que o Ano Catequético nos faça viver mais intensamente a catequese como processo a nos transformar em discípulos conscientes, ativos e apaixonados pela missão de Cristo.

Pe. Antonio Valentini Neto – Pároco da Catedral São José (Erexim).

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